Destino, porque tem de ser assim?

Hoje é dia de escrever à sério no meu Blog, especialmente porque hoje não me sinto propriamente inspirado para aparvalhar, e assim aqui vai algo que me ocupa de há muitos anos para cá e que me faz sentir triste e por vezes um cobarde do pior!
Logo a começar mais um dia, uma colega relatou-me que tinha ouvido uma notícia na rádio que dava conta de um acidente na Segunda Circular em Lisboa. Como habitual, percorro algumas páginas que diariamente sigo na Internet, e numa delas, Sic Online, encontro informação acerca de tal sinistro, no qual já estava confirmada a morte de um motociclista devido ao despiste da sua moto de grande cilindrada que conduzia. Tal notícia dava conta também que tudo aconteceu por volta das 06h15 da manhã, "que hora" pensei, "será que ia para o trabalho? estaria a regressar do mesmo?, porque terá sido o destino tão cruel logo tão cedo". Quando me questionava acerca de tudo isto, foi quando pensei que o destino por melhor ou pior que seja não escolhe hora, penso que todos nós temos o nosso fado escrito e traçado e que nada o poderá mudar, o que tiver de ser...será.
Apesar de assim pensar, obviamente podemo-nos precaver de determinados perigos, riscos, mas até que ponto podemos controlar o dia em que morreremos ou o acontecer de algo que mude num segundo todo o resto da nossa vida? Acho que pouco podemos fazer, apesar de tudo aquilo que somos, sentimos ou desejamos.... nunca sabemos como será o dia de amanhã!
Foi a pensar naquele acidente mortal de mota e no destino que resolvi escrever sobre o Fernando, um amigo (espero que ele também ainda me veja assim) que de um dia para o outro viu a sua vida dar tamanha volta que o mudou para sempre, um acidente de mota que mudou tudo aquilo que era e tinha.
À cerca de 12 anos, o Nando era uma pessoa normalíssima de quem gostava muito, uma pessoa simples e trabalhadora, amigo de tudo e todos, o qual nunca vi desrespeitar seja quem ou o que quer que fosse, uma pessoa sempre tranquila, cordial. Temos mais ou menos a mesma idade, e na altura dentro do meu grupo de amigos estava sempre de bem com todos, namorava há já alguns anos com uma amiga minha por quem era completamente louco, de verdade, apesar de ser "um puto giro" só tinha olhas para ela e tenho a certeza faria tudo para ser feliz junto dela para sempre! Tinha uma vida normalíssima que em segundos mudou para sempre... em mais um dia de trabalho, como sempre veio a casa com um primo almoçar e aquando do regresso, sofreu um acidente de mota que lhe tirou praticamente a vida ao ponto de lhe ter sido declarada morte cerebral logo no local do acidente, este provocado por um maldito indivíduo que fez da sua pressa e dos seus malabarismos automobilísticos um marco cruel na vida de outro. Tal ser resolveu a determinada altura da sua viagem ultrapassar um camioneta que se encontrava parada a ocupar metade da via de circulação para deixar passageiros, porém, -lo sem atentar minimamente que iria ocupar a faixa contrária, provocando o acidente que originou uma mudança radical na vida do Nando que apenas ia na sua mão descansado com a sua mota a caminho do trabalho!
Tal como já escrevi, ao Fernando foi atribuída pelos Bombeiros possível morte cerebral logo ali minutos após o embate. Mas não, o Fernando forte como era e é, fintou e enfrentou a morte e conseguiu sobreviver àquele que poderia ter sido o fim da sua vida! O tempo foi avançando e ainda em pleno hospital lembro-me da primeira visita que lhe fiz, já passados alguns meses de internamento e operações após o acidente, lá ganhei coragem (na altura ainda não era cobarde) e lá fui com mais três amigos visitá-lo no dia em que eu fazia 17 anos e nunca esquecerei até ao resto da minha vida esse momento de choro, ao ver o Fernando naquela cama de hospital completamente preso a imensas limitações físicas e mentais, o destino tinha sido tão cruel para ele que me limitei a chorar (e não tenho problema em dizê-lo) quando ao olhar para mim me reconheceu e disse a muito custo "Gorby", quando pouco ou nada conseguia dizer. "Porquê, mas porquê o Fernando?".
Os anos foram passando, ao que sei a resolução do acidente ainda hoje está longe de ser concluída graças a Tribunais incompetentes e à crueldade de determinados seres que possuem aptidões apenas para fazer o mal, a vida do Fernando continua limitada a todas as inaptidões adquiridas, todos os problemas a nível cerebral e físico, que entretanto vai tentando aliviar com constantes secções em Alcoitão, mas o Nando nunca mais foi e infelizmente não mais voltará a ser o que era e quem era antes do acidente (e se ele merecia que tudo pudesse ser como era)! Lembro-me de o ter visitado por mais algumas vezes mas entretanto fui aos poucos deixando de ter coragem para o fazer e é por isso mesmo que me sinto um cobarde, apesar de achar que no meu dia a dia não o sou, com o Fernando sei que sim e que ele não o merecia, nada mesmo, e o obstante talvez ele nunca chegar a ver este Post, quero-lhe dizer na mesma que gosto muito dele e que nunca o esqueci e que lhe desejo o melhor do mundo, e que a vida lhe sorria sempre e cada vez mais, bem como dizer "Fernando, desculpa a minha cobardia e falta de coragem!", Apesar das palavras não desculparem actos... aqui fica!
Bem sei que este não será certamente um assunto que interessará à maioria dos que o possam ler, de qualquer forma quis partilhar esta minha cobardia e dizer a todos aqueles de quem gosto que apesar de tudo, espero que o destino vos sorria sempre e nunca vos pregue nenhuma rasteira, e que sejam sempre e cada vez mais felizes porque num segundo a nossa vida ou tudo à nossa volta pode mudar ou desabar... por isso aproveitem cada momento para ser felizes e estar de bem com a vida e com todos, as invejas, o rancor, ódios não nos levam a lado nenhum, mas com a amizade de outros podemos ser mais fortes, eu acho!

Um abraço a todos e em especial ao Nando (Sê feliz!)

Nuno Gorby ®

2 comentários:

baco_3 disse...

Puto curiosamente o meu post está relacionado e dá-te por feliz porque todos os que te rodeiam estao á distancia de uma chamada de telemóvel.Posso garantir-te que vai chegar o dia em que vais querer falar com uma pessoa e já não podes, aprende com estas lições da vida. um grande abraço

Anónimo disse...

Quantas vezes não acontece, gostarmos de alguém, seja como amigo, ou doutra forma qualquer, e não temos a "coragem", ou, simplesmente, deixamos para outro dia a oportunidade de o demonstrar, e, certo dia, quando o queremos fazer, já não temos essa oportunidade, ou porque essa(s) pessoa(s) se foi(foram) embora, ou porque já não está(ão) entre nós.

A lição a tirar daqui é: Diz às pessoas que amas/gostas, o quanto as estimas, enquanto podes!

Não percam tempo..., porque não sabemos o dia de amanhã.

Um abraço a todos.

Gonçalo